20 dezembro 2006

NATAL: o nascimento de um propósito

28 Depois, vendo Jesus que tudo já estava consumado, para se cumprir a Escritura, disse: Tenho sede! (...) 30 Quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito. (João, 19:28 e 29)

Este capítulo 19 do Evangelho de João narra os últimos momentos do Jesus-Homem entre nós. Em meio a açoites, injustiças e escárnios, Jesus profere poucas palavras, simples na forma, profundas em sentido: “Está consumado!”.

Mas estamos em tempo de Natal, não de Semana Santa ou Páscoa! No Natal celebramos o nascimento de Cristo; a vinda, o princípio, o começo. Por que então enfatizar as últimas palavras de Jesus, ou seja, o final, o término, o fechamento, a morte?

Talvez porque a reflexão natalina em torno do nascimento do Deus-menino não esteja surtindo muito efeito nas reflexões e práticas cotidianas de grande parte da população. O que temos visto por entre as luzes do natal são tantas pessoas tentando preencher suas vidas com bondade, obras e campanhas caridosas. Todo um cenário de boas ações é construído nessa época e muitos, ávidos por fazer um bem que durante todo o ano não tiveram tempo, correm às ruas, orfanatos, creches e asilos. Pergunto-me sobre quem está sendo beneficiado? A criança recém acordada na madrugada fria de uma calçada qualquer, recebendo o brinquedo de segunda mão; ou o doador que retornou para sua casa aconchegante após o ato de extrema bondade pensando: “Como é bom fazer isso”? Bem, pelo menos alguém está se sentindo bem. E, por favor, não me entendam mal; continuem dando brinquedos... nada paga o sorriso dessa criança.

Mas, nas últimas palavras do Mestre, o “Está Consumado” nos leva à reflexão de Jesus enquanto homem – bem humano mesmo, inclusive com sede! – dizendo que o projeto de sua vida havia sido realizado por completo. O propósito para o qual nascera, havia sido finalizado em sua inteireza. Quando o texto bíblico diz: “vendo Jesus que tudo já estava consumado”, ele nos constrange a “ver” nossa própria vida e considerar sobre o que está sendo ou não consumado. Existe algo em consumação na minha caminhada? Na verdade, penso que o inconveniente da morte não é a dor, a saudade nem o término em si, mas a pavorosa possibilidade de subir à cruz (ou descer à cova) sem a certeza de que algo foi consumado em nossa rápida passagem por esse mundo. É o medo de morrer sem saber pelo que vivemos.

Natal é época de reflexão; mas não a reflexão menor de um pseudo-amor ao pseudo-próximo que resulta em alguns espasmos de caridade com data marcada para terminar, mas reflexão profunda sobre o propósito da vida; da minha vida. Reflexão sincera sobre o papel histórico a ser desempenhado por mim e por você, sobre a marca que deixaremos nas pessoas que conosco conviveram.

Jesus, repito, em toda a sua humanidade (pois não me venha dizer que Ele foi ético e orientado assim só porque era Deus), percebeu nos arredores de sua morte que fez o que era para ter sido feito. E nós, temos feito aquilo para o qual nascemos? Nesse Natal, gostaria de convida-lo(a) a se deslumbrar menos com o bebê impotente da manjedoura e se deixar cativar mais pela missão inigualável que esse bebê, crescido, morto e ressurreto, Rei dos Reis, tem para cada um de nós. Assim, poderemos chegar ao final de nossas vidas e afirmar: “Está consumado”!

Que nesse natal, Deus faça nascer um propósito novo em sua vida.

Mario S. Levy