27 abril 2007

As leis fixas da natureza e o Iivre-arbítrio

"PODERÍAMOS muito bem conceber um mundo em que, quem sabe, Deus corrigisse o tempo todo, os resultados do abuso do livre-arbítrio por parte das suas criaturas. Desse modo, a trava de madeira se tornaria tão macia quanto a grama caso fosse usada como uma arma e o ar se recusaria a me obedecer se eu tentasse descarregar nele ondas sonoras que carregassem mentiras e insultos. Mas um mundo assim seria um mundo em que seria impossível assumir atitudes erradas, e em que o livre-arbítrio seria inútil. Se esse principio fosse levado às conclusões lógicas, os maus pensamentos seriam impossíveis, já que a massa cerebral que usamos para pensar boicotaria a nossa tarefa de tentar moldá-las. Toda a matéria que se encontra nas proximidades de um homem fraco se tornaria propensa a passar por alterações imprevisíveis. O fato de que Deus pode modificar o comportamento da matéria, produzindo o que chamamos de milagres, faz parte da fé cristã. Mas a própria concepção de um mundo comum e, portanto, estável, requer que ocasiões como essas se tornem extremamente raras. Num jogo de xadrez você pode até fazer algumas concessões ao seu adversário. Estas concessões estão para as regras normais do jogo como os milagres estão para as leis da natureza. Você pode até sacrificar uma torre ou permitir que outra pessoa desfaça um lance feito por descuido. Mas se você lhe conceder tudo o que ela quer e que lhe possa parecer conveniente — se todos os seus movimentos fossem revogáveis e todas as peças desaparecessem sempre que as suas respectivas posições no tabuleiro não fossem do agrado dela, então você não estará diante de jogo algum. O mesmo acontece com a vida das almas no mundo: as leis fixas, as conseqüências se desdobrando por necessidade casual, e toda a ordem natural São limites imediatos (dentro dos quais as suas vidas comuns estão confinadas) e a única condição sob qual uma vida assim é possível. Tente excluir a possibilidade de sofrimento que a ordem da natureza e a existência do livre-arbítrio envolvem e você acabará descobrindo que excluiu a própria vida."
— de The Problem of Pain [O Problema do Sofrimento] – C.S. Lewis

Com textos assim, só podemos concordar com o autor, em “O Grande Abismo”, quando a mãe que ficou 10 anos enlutada por seu filho, chega ao “lugar intermediário” e reconhece: “Eu estava totalmente equivocada!” Daí, o Espírito Brilhante continua: “É isso que todos nós encontramos quando chegamos a este país. Todos nós estávamos enganados! Essa é a grande piada. Não há necessidade de continuar que alguém estava certo! Só depois disso é que começamos a viver.”

Creio que Deus dá boas risadas ao ver seu povo ao redor de mesas, sinceros em sua subjetividade limitada, discutindo idéias, doutrinas e pressupostos teológicos. Posso quase ouvi-lo a pensar: “Quando é que esse povo começará a viver?”

Enquanto isso, vamos continuar dando risadas de nossas idéias... Até porque não creio que devam ser levadas tão a sério.