31 outubro 2006

SIMÃO e Eu

Quantas vezes percebo em minha vida posturas semelhantes à de Simão, o mago. Sua história está narrada no livro dos Atos dos Apóstolos (8:9-25). Este, vendo o poder do Espírito Santo de Deus através das ministrações dos apóstolos, desejou ardentemente adquiri-lo por valor em dinheiro.

O homem moderno, do qual sou um grande representante, se vê imerso em desafios que se sobrepõem a cada dia. Vislumbra novas tecnologias desenvolvidas para tornar sua vida mais fácil e confortável – o que nem sempre acontece. Assim, vive uma interminável busca por soluções e respostas; e nunca, invariavelmente, nunca quer investir muito tempo nessa busca. É a compulsão pelo imediato, a cultura ultra fast-food. A única coisa que pode demorar é a consulta no médico, pois se tem muita gente esperando por consulta, o doutor deve ser bom e, quando chegar a minha vez, serei medicado com o que há de mais eficiente e rápido na cura da minha enfermidade! Na lógica capitalista de consumo e, paradoxalmente, de acúmulo, tempo é dinheiro. Quanto menos tempo perder esperando algo, mais tempo terei para me dedicar a atividades que me garantam satisfação.

Nesse ritmo, não só condicionamos nosso tempo àquilo que julgamos valer ou não a pena (e para esse julgamento fazemos uso da nossa lógica cartesiana e extremamente limitada), como também tratamos com as coisas (e também com Deus) numa relação linear de causa e efeito. “Faço por merecer!”, digo. Se quero algo da parte de Deus – como Simão queria – preciso descobrir o que estou disposto a oferecer para que, “em troca”, Deus me recompense. E que seja algo rápido e bem objetivo.

Ninguém quer gastar tempo e joelhos no chão para buscar o Dom de Deus. Nas bases da meritocracia, achamos que pelo merecimento iremos conquistar aquilo que Deus tem para nós. Isso é crença pagã: o súdito que tem que agradar a divindade para ter boas colheitas. No cristianismo, nas bases da graça, isso não é assim.

Simão ofereceu dinheiro. E eu, o que tenho oferecido? Em nossos dias, oferecer dinheiro para as coisas de Deus seria muito escandaloso e, além do mais, isso é coisa da Idade Média. Ofereço outras coisas em troca do favor divino. Trabalho na obra, fidelidade no dízimo, jejuns, campanhas de oração, planos de leitura bíblica, e assim vai. Todas essas atividades são vitais em nosso relacionamento de intimidade com o Pai, mas podem ser destrutivas para nossa espiritualidade quando utilizadas como moeda de troca para “conquista” ou, ainda, “compra” do Dom de Deus.

Tomo a liberdade de reler as palavras de Davi (Sl. 139: 23-24) acrescentadas das de Paulo (Ef. 2: 8-9): “Sonda-me, Senhor, conhece o meu coração e os meus pensamentos; vê se há em mim qualquer tentativa de me apropriar daquilo que Tu tens, gratuitamente para minha vida, através das obras pelas quais tendo a me achar merecedor do Teu favor.”

20 outubro 2006

QUEM TEM OUVIDOS PARA OUVIR, OUÇA!

É assim que Jesus Cristo conclui cada uma de suas sete cartas às igrejas da Ásia Menor, no livro do apocalipse: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às Igrejas”.

Quem não quer ouvir o que o Espírito Santo tem a dizer? Quando Jesus fala sobre o vento do Espírito que sopra onde quer e quando quer, ele afirma a possibilidade de ser guiado por esse Espírito. Perfeito! Uma vida alinhada com aquilo que Deus quer.

Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz. Ele fala; interage; sustenta o mundo no poder da sua Palavra falada (Hb. 1:3). Mas se esse presente do indicativo existe, e o Espírito de fato, fala; instantes depois, então, o que foi presente encontra seu lugar no pretérito perfeito e passa do “que se fala” para “o que foi dito”. Assim, a convicção de que Deus hoje nos fala, implica na certeza de que, a nós mesmos, também já falou.

Entendido isso, faço uso de um fenômeno interessante em nossa sociedade, eu o chamo de “amnésia seletivo-voluntária da coletividade”. Uso o exemplo da nossa política para explicar. Tomemos o dinheiro e a compra do tal dossiê. Por fazer parte do tempo que se chama hoje, o assunto está bem presente na vida e no cotidiano. A essa notícia dirigimos nossa indignação, protesto e ações de repulsa. Entretanto, quem ainda protesta e repudia a compra das ambulâncias superfaturadas? Voluntária e coletivamente nos esquecemos para dar lugar às palavras do hoje. Quando este último assunto era o epicentro dos vendavais de escândalos, a coletividade já havia esquecido – voluntariamente, ou não – das denúncias do caseiro atrevido, da abrangência descarada do mensalão, dos dólares na cueca e assim por diante. Quem ainda lembra do assassinato misterioso do prefeito? Cada escândalo do presente é sobreposto de forma substitutiva aos demais que, agora, descansam no pretérito.

Acredito que isso também acontece em nossa busca por ouvir e sentir a brisa misteriosa do Espírito. Focamos as atenções no que está sendo dito (e isso é ótimo), ao mesmo tempo em que insistimos na amnésia seletivo-voluntária daquilo que já foi dito.

E o que é que o Espírito já disse às Igrejas? “Ide, portanto!”, “Ame os inimigos”, “Tomem a cruz”, “Perdoem-se”. Eu sou a Igreja; e na ânsia por soluções prontas e imediatas, voluntária e seletivamente, relego ao pretérito petrificado aquilo que já foi dito e corro atrás do que se diz no hoje; muitas vezes, em função de que o outrora dito apresenta-se como laborioso e desconfortável. Ir, amar, suportar, perdoar; dá, de fato, muito trabalho. Prefiro, assim, a “revelação” da hora, a solução do agora; aquilo que o espírito diz e que, sem muito esforço, me garante a solução.

Quero ouvir o que o Espírito diz hoje! Sim, quero! Só não posso descartar ao esquecimento (por conveniência ou comodidade) tudo aquilo que também já me foi ordenado. Estar atento ao vento misterioso do Espírito em nossos dias, no nosso hoje, é necessariamente dependente da atenção responsável e comprometida aos imperativos que já foram pronunciados e, por terem sido pronunciados pelo Espírito, foram eternizados em nossas realidades. Quem tem ouvidos, ouça.

19 outubro 2006

CAMINHADA...


Certa vez, conversando com um irmão querido, soube que este estava caminhando com um outro irmão da igreja. Coincidentemente, havia visto esses dois irmãos, um dia antes, dando fortes passadas juntos à Beira Mar e mantendo a forma.

Algum tempo depois, soube que nessa “caminhada” muitas coisas boas estavam acontecendo entre eles dois; reflexão, arrependimento, confissão de pecados, quebrantamento e mudanças de vida. Então pensei: “Mas tudo isso na beira-mar, no meio de tanta gente?”

Quando caminhamos com alguém, no sentido relacional do termo, construímos um ambiente de segurança tal onde nossos erros podem vir à tona sem medo, nossas compulsões expostas e tratadas e nossas vidas transformadas pela aceitação e transparência mútua. Teoria? Não! Prática. Acredite, eu tenho experimentado isso em minha vida e reafirmo: “Vale a pena!”

Eu gostaria de saber que você também tem caminhado com alguém – se for na Beira Mar ou na pracinha, bom para você e para sua saúde – mas, não deixe, também, de dar fortes passadas de sinceridade e transparência com uma outra pessoa, um irmão(ã) em Cristo. Essa caminhada fará muito bem ao seu SER.

TER ou SER a Copa do Mundo?


Quando a vida nos traz filhos (ou netos) e estes atingem a idade de recém alfabetizados, entre 6 e 8 anos, precisamos estar atentos para os significados mais triviais a fim de respondê-los em suas curiosidades inocentes e construtivas. É uma fase linda.

Pensando nisso e assistindo o primeiro jogo do Brasil na Copa do Mundo com a minha filha de 6 anos, fiquei refletindo sobre o significado da palavra “copa” e esperando pelos seus questionamentos (que felizmente não vieram).

Quando queremos ser “chiques”, chamamos cozinha de copa; no baralho, existem as cartas do naipe de copas cujo singular vem da definição mais antiga para copo ou taça; mas a parte superior das árvores também se chama copa. Por tanto, permitam-me trocar alguns significados para chegar ao meu ponto de reflexão. A Copa do mundo, tão desejada e disputada, é um troféu em forma de taça que segura o globo terrestre. Ela confere aos seus portadores o título de melhores jogadores de futebol existentes no planeta. Todos querem lutar por ela, merecê-la... Todos querem possuir essa “copa”.

Mas penso agora em “Copa do Mundo” como “Topo do Mundo”. No sentido da copa de uma árvore; os galhos mais altos, a folhagem mais perto do céu. Agora ela deixa de ser algo que se conquista, um troféu, e vira o topo da criação. Lembro-me do topo das Andirobas na selva amazônica, árvore imponente cujas copas podem atingir mais de cem metros de altura. Ou das agudas copas do pinheiros na boca da cratera do vulcão Hale’akala em Maui no Havaí. Estou falando de lugares realmente altos. As copas das árvores, com proeminência altaneira e visão privilegiada, são, por tanto, a “Copa do Mundo” neste sentido.

Certa vez o Espírito Santo usou um homem chamado Pedro para dizer que os filhos de Deus fazem parte de uma “raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus...” (1 Pe. 2:9). Assim, afirmo que o povo de Deus é a “Copa do Mundo”. E uma notícia melhor ainda é que esta “copa” não precisa (nem pode) ser conquistada, merecida ou adquirida por qualquer preço ou esforço, mas unicamente pela graça de Deus que nos alcança e “faz os nossos pés como os da corça, e nos faz andar nos lugares altos” (Hq. 3:19).

O grande desafio para nós, então, é escolher se, como “copa do mundo”, seremos tão altos em espiritualidade que nos distanciaremos cada vez mais dos problemas e das realidades do mundo aqui em baixo; ou, justamente por sermos “copas”, geração santa que anda altaneiramente, nos encheremos do mesmo amor com o qual Deus desceu do seu trono de glória, virou gente, e libertou o homem de seus sofrimentos. A escolha está diante de todo aquele que quer SER a “Copa do Mundo”.

Ainda espero minha filha perguntar o que é Copa do Mundo, pois tenho muito a dizer pra ela (muito mais em atitudes do que em palavras). Que Deus me ajude.

CARTA PARA MINHA MÃE

Para falar das mães como um todo, permita-me iniciar com algo importante que li num dos textos do Ed René e que é bem presente nos casamentos. "Na hora de dizer “sim”, conto com que os noivos já tenham entendido que estão se unindo com o cônjuge do exato jeito que ele é; nem mais nem menos. Não nos casamos com a mulher ou com o marido que esperamos que se tornem. Se assim fosse, passaríamos a vida toda tentando mudá-los e isso traria frustração e infelicidade. Para casar, precisamos amar o cônjuge suficientemente para recebê-lo do jeito que ele é." Se ele vai mudar e se transformar ou não no cônjuge que sonhamos... aí é outra história.

"Muitos relacionamentos conjugais terminam pela frustração dessa possibilidade de ter ao nosso lado a idealização de marido ou de esposa que construímos em nossos contos de fantasias pessoais. Vida a dois é construção de ideais constantemente modeláveis, onde um ajusta o outro na convivência harmoniosa e acolhedora de um casamento equilibrado; onde o maior desejo de cada cônjuge é, tão somente, fazer o outro feliz. Entrar numa relação onde o nosso parceiro será “convidado” a se encaixar em nosso molde pré-determinado de perfeição é tirania, não companheirismo conjugal."

“Mas o que é que isso tudo tem a ver com o Dia das Mães?”, você pode se perguntar. É porque as mães, de uma forma assombrosamente sobrenatural, eu diria, conseguem fugir a essa regra pecaminosa de entrar numa relação para se fazer feliz em primeiro lugar (ao invés de fazer o outro feliz). Elas quebram com todas as leis de causa e efeito quando recebem gritos dos filhos e lhes retribuem com gentileza desconcertante; quando os mesmos escolhem tomar as decisões erradas na vida e, em meio aos olhares acusadores e fulminantes dos algozes ao seu redor, lembram-se que sempre haverá sempre um colo aconchegante aguardando o regresso do “filho que errou”.

As mães, na minha opinião, são a representação mais aproximada do amor de Deus que nos recebe do jeito que estamos: sujos, fedidos, errantes, arrependidos... Elas não esperam que alcancemos a sua idealização sobre “como deve ser um bom filho” para nos estender seus braços. Como Paulo diz aos romanos: “Ele nos amou sendo nós ainda pecadores” (5:8). Esse é o amor de mãe, é o amor de Deus.

Sou grato por ter sido amado e aceito por minha mãe de uma forma tão intensa que às vezes até me sufocava. Recebi do próprio Deus um paradigma para entender melhor um pouco a respeito do Seu próprio amor por
mim. Por isso posso dizer: Mãe, eu te amo!

FELIZ DIA DAS MÃES.