24 novembro 2008

Finalizando a série...

cabeca  Hoje encerramos a série de mensagens sobre um dos temas mais intrigantes da existência humana, o sofrimento. Ninguém lhe é imune, tampouco ensurdecido frente aos brados de uma catástrofe que fustiga algum lugar. Como escreveu Philip Yancey, “Nascemos envoltos por sangue e líquidos do corpo, em meio a lágrimas e gritos de dor, morremos da mesma forma e, entre nascimento e morte, perguntamos: ‘por quê?’”.

A resposta à pergunta tema de nossa série – “Por que sofremos?” – é totalmente desnecessária. Insistir nela e em tantas outras no desafio de compreender racionalmente o sofrimento só nos traz adoecimento emocional e relacional. Ao invés, temos insistido na tarefa sublime e honrosa de responder positivamente à vida frente ao sofrimento. “Agora que isso me aconteceu (já chorei e esperneei!), como reajo?”

Tenho ouvido e acompanhado muitas pessoas sofridas nessas últimas semanas. Parece que o tema despertou na igreja a vontade de abrir seus corações e de tentar encontrar meios para responder à vida e suas dores. Mas algo ainda mais particular tem me intrigado. Muitas delas – diria quase todas – sofrem por lutas dentro de si mesmas. Não existem fatores externos, não há crise financeira, doença, perdas ou quaisquer calamidades externas suficientemente preocupantes. O conflito se trava em suas almas e o dragão que lhes atormenta conhece tão somente os recônditos secretos de suas consciências. O que me faz lembrar da revolucionária postura de Jesus ao afirmar, por exemplo, que homicídio e adultério consumados não são aqueles que acontecem fora, no ato violento ou no leito proibido; mas dentro, na intenção impura de coração, naqueles pensamos que reverberam ira e desejo lascivo.

Mais e mais pessoas têm construído vidas secretas em suas mazelas e dissabores. Sofrer por um filho que morre ou por uma nação devastada em um terremoto externa nossa humanidade e revela que somos sensíveis à dor do outro. Contudo, sofrer por alguma transgressão interna a qual não fomos capazes de evitar é vergonhoso e doloroso. Esse sofrimento não revela, por tanto, humanidade, mas fraqueza e vergonha. E assim, insistindo no anonimato, pessoas se permitem isolar e viver realidades paralelas, protegendo-se detrás de identidades que não são as suas próprias. É o fim dos relacionamentos saudáveis e restauradores.

Responder positivamente a esse tipo sofrimento interno e individualizado é um desafio. Aceitar o fato de que o outro pode ser um instrumento de cura para minha vida é fácil, o difícil é permitir que ele seja confessando quem sou pra ele. É rejeitar o anonimato. É confissão que expõe, mas que cura. O poder curador de um relacionamento sincero é, simplesmente, divino.

Está aí, quem sabe, uma das conclusões que podemos guardar desse mês considerando sobre o sofrer: dividir é melhor do que esconder; confessar é melhor do que reter; a exposição, apesar de vexatória, supera o anonimato que perpetua a dor. E para você que sofre só, fica o desafio de significar a vida encontrando alguém para abrir os porões de sua alma, se deixar conhecer, confessar o que for necessário e gozar da plenitude que Deus planejou ao lhe criar a sua imagem e semelhança.

Que Deus nos abençoe e traga novos “amigos-confidentes” em 2009,

11 novembro 2008

Na maioria das vezes basta um abraço...

02 novembro 2008

Série de Mensagens...

cabeca

André é um rapaz de 18 anos, recém ingressado na faculdade de medicina – orgulho da família. Após algumas tonturas no jogo de futebol com os amigos, descobriu que tem leucemia e hoje se encontra em estado grave na UTI de um hospital da cidade. Martin Gray, do outro lado do mundo, é um sobrevivente do Gueto de Varsóvia no Holocausto da Segunda Guerra Mundial. Após reconstruir sua vida, casou-se e teve filhos, compondo uma bela família. Certo dia, contudo, sua esposa e filhos foram mortos por um incêndio na floresta que consumiu sua casa no sul da França.

Diante de relatos como esses, e talvez diante de outros nem tão trágicos, nos colocamos a perguntar: Por quê? Como é possível? Quem é o culpado? Por que eu? (...) Enfim, o sofrimento é parte inevitável da existência humana. Certa vez, sobre o conceito de “liberdade”, Cecília Meireles disse: "...Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda...". Ponho-me a parafraseá-la tendo em mente o sofrimento humano: “...Sofrimento, essa realidade da qual o sonho humano tenta se ver livre que não há ninguém que explique nem ninguém que entenda...".

Duas pessoas, duas crises e duas posturas diferentes. Bart Ehrman é um homem dotado de inteligência privilegiada, chefia o departamento de estudos religiosos da Universidade da Carolina do Norte, EUA. Foi pastor batista, cristão fervoroso e famoso interlocutor em debates religiosos na mídia televisiva norte-americana. Sofreu grande dor quando não conseguiu mais encontrar respostas em Deus e na Bíblia para o sofrimento humano. A crise da Razão o levou a abandonar a fé. Hoje Ehrman se declara agnóstico, ou seja, deve existir algo maior no Universo, mas certamente não é o Deus da Bíblia! Triste, mas ele é mais um na imensidão de almas desiludidas que não conseguem lidar com a violência e a irracionalidade do sofrimento humano frente a um Deus que outrora amou, livrou e protegeu, mas que agora não poupa o ser humano da tragédia nem filhos da leucemia!

Em contra partida, apresento-lhes Harold Kushner, famoso escritor e rabino experiente. Pastoreia há muitos anos uma congregação judaica em Nova Iorque. Kushner e sua esposa sofreram quando seu filho Aaron foi diagnosticado com uma doença rara chamada Progéria, “envelhecimento rápido”. O médico disse que Aaron não passaria dos 90 cm, não teria cabelos, seria parecido com um velho e morreria antes da adolescência. Nas palavras de Kushner: “Naquele dia tive uma sensação profunda e dolorida de deslealdade. Como isso podia acontecer a minha família? Se Deus tinha um mínimo de eqüidade, pelo menos para amar e perdoar, como podia Ele fazer isso comigo?” Esse sentimento é legítimo, é absolutamente humano! Contudo, a resposta que Kushner deu à vida após o falecimento do filho com apenas 14 anos, foi igualmente humana, e por isso sábia e abençoada por Deus. Ele hoje se sente mais “parceiro na dor” com familiares e amigos que choram; consegue viver com um Deus que “sofre” com os que sofrem e que dá forças de maneira impressionante a estes que se arrastam pelos dias achando não ser possível suportar a dor. A morte de seu filho e toda a comoção comunitária que a precedeu, diz ele, “também me fez ver Deus impelindo as pessoas a se ajudarem mutuamente em suas necessidades”. (É imperdível a leitura de seu livro: “Quando coisas ruins acontecem às pessoas boas”, Ed. Nobel, 1988, 149 pp.)

A diferença entre Ehrman e Kushner está na resposta que ambos deram – e estão dando – à vida diante das dores e do sofrimento. E certamente esse vai ser o grande diferencial na sua história, uma vez que já concordamos que o sofrimento é parte inerente à existência humana.

A partir de hoje começaremos na igreja uma série de mensagens sobre o tema: “Por que sofremos?” Vamos ler o livro de Jó e outros textos que nos ajudem a passar pelos dissabores da vida com fé, esperança e propósito.

Juntos na caminhada,