O mundo se faz constantemente essas perguntas. A curiosidade não é só epistemológica, ou seja, não se quer só conceituar; mas é existencial, precisa-se dela para viver. Há uma sede no ser que água nenhuma sacia.
Uma leitura sincera e cuidadosa da Bíblia me faz ter pelo menos quatro convicções a respeito da minha condição existencial. Convicções que abrangem questões essenciais: identidade, origem, destino e propósito.
O drama existencial de muitas pessoas é prioritariamente uma questão de identidade. Quem sou eu? Bem, à luz da Bíblia, entendo que sou único em minhas peculiaridades, criado à semelhança do Deus Perfeito, o que me instiga a almejar essa perfeição (pois busco avidamente modelos a seguir). Também faço parte de um povo de propriedade exclusiva do Deus Criador. Socialmente, quando sei quem sou, deixo de tentar ser quem os outros querem que eu seja; passo a servi-los sem expectativas de retorno ou de aceitação.
Pessoas se inquietam imensamente com a dúvida sobre sua origem. Essa angústia é legítima do ponto de vista existencial (não do ponto de vista científico). Se sou fruto do acaso e concebido por pura obra da natureza reprodutora do homem, ou ainda, se tudo veio (inclusive eu) do nada e a partir de processos macro-evolutivos são o que são hoje, então careço de significado para viver e com essa mesma carência retorno ao pó. Quando, porém, tenho compreensão espiritual de onde vim, da minha origem - mãos criadoras de um Deus que conhece cada detalhe da minha constituição por que me criou (e isso é um mistério) - deixo de tentar me defender, de salvaguardar minha reputação, pois como disse o profeta Isaías: “... perto está o que me justifica” e passo a descansar na realidade do retorno ao pó, não como o fim, mas como continuação da eternidade.
Essa noção de eternidade aqui e agora, mas que será consumada ali e além, me esclarece a terceira convicção: a questão do destino, o “Pra onde vou?”. Jesus disse “na casa de meu Pai há muitas moradas (...) vou preparar-vos lugar.” (Jo. 14:2) Por isso canto: “Eu sei pra onde vou...”. Com essa convicção, deixo de me preocupar com a transitoriedade das coisas desse mundo e passo a viver menos apegado, mais livre para ser e servir e muito, mas muito mais feliz.
Por fim, quando descubro “por que ou pra que estou aqui”, passo a vivenciar o projeto de vida mais emocionante de todos os tempos: ser instrumento de salvação (física, psíquica e espiritual) na vida de tantas outras pessoas. Esse é o meu propósito de vida.
Sei quem sou diante de Deus, não sou fruto do acaso. Sei de onde vim e pra onde estou indo. Tenho um propósito de vida que é claro, apresar de sublime em sua essência; plausível, apesar de requerer fé para vive-lo; e exclusivo, apesar de ser vivenciado na experiência do coletivo, onde outras pessoas são transformadas e, constantemente, me transformam.
Creio que por isso Jesus citou o Deuteronômio para Satanás no deserto: “Não só de pão viverá o homem, mas de toda Palavra que procede da boca de Deus” (Mt. 4:4) O pão sacia o físico, por isso Jesus teve fome. Mas a palavra do Senhor vivifica a alma e o Espírito, sacia a sede existencial. É disso que precisamos, é disso que o mundo em constante conflito existencial precisa.
“Aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna.” (Jo. 4:14)Mario S. Levy