19 fevereiro 2008

"Jesus chorou". - Jo. 11:35

18 fevereiro 2008

Uma família em nós

O capítulo 12 do evangelho de João narra um momento especial da vida de Jesus. O ambiente é uma casa de família onde há poucos dias atrás um grande milagre havia sido feito. Trata-se da casa de Lázaro, amigo do Senhor.

Um ambiente familiar, pessoas acostumadas com a presença transformadora daquele que restaurara vida ao corpo e esperança aos corações.

Os presentes à mesa com Jesus eram os irmãos, Lázaro, Marta e Maria. Acredito que essa família traz em seus membros, simultaneamente, uma boa representação de como podemos nos portar em nosso relacionamento com Deus.

Lázaro é aquela dimensão em nós que vivencia o milagre diário da vida. Ele que havia sido recém ressuscitado por Jesus, desperta em nós a possibilidade de ressurgimento em meio às impossibilidades e de reedificação em meio às quedas. Jesus disse: "Lázaro, vem pra fora!" Ouça isso hoje: "Levanta você que está prostrado, Deus pode te devolver a vida!"

Depois nos deparamos com Marta, a tão atarefada Marta! Freqüentemente nos voltamos para Marta querendo ilustrar a aridez do cristão ativista. Ok, faz sentido, mas permita-me ir além e elogiá-la como aquela que há de nos despertar para a importância do serviço abnegado. Se em Lázaro temos a vida de volta, em Marta vislumbramos o propósito dessa vida: servir a Deus em nosso dia-a-dia. Para isso não é preciso agitação, somente sensibilidade.

Por fim, vemos a Maria. Aos pés do Mestre ela nos dá uma lição de prioridades. Em face das demandas que o cotidiano traz, a atitude da Maria nos ensina a investir tempo e recursos naquilo que é mais importante. Tantas direções a tomar, muitas escolhas a fazer e as palavras de Jesus seguem atuais: "Ela escolheu o melhor".

Sou Lázaro quando valorizo a vida abundante que me foi "devolvida" na cruz do Calvário; sou Marta quando entendo que essa vida só terá sentido se for em função do próximo e de suas necessidades. E Maria... ah, Maria continua aos pés do Senhor, desfrutando do que há de melhor. Preciso tê-la mais em mim. Precisamos de toda esta família em nós!

Mario S. Levy

 
 

06 fevereiro 2008

O Cristão quer ser sincero e o Religioso quer ser aceito

Esses dias assisti uma entrevista do cantor e líder da banda U2, Bono Vox. Ele falava ao pastor-presidente de uma das maiores comunidades evangélicas dos EUA, o Pr. Bill Hybels. A entrevista acontecia por ocasião do congresso anual de líderes oferecido pela igreja de Bill. Com foco em ações humanitárias de caráter responsável e transformador, acharam por bem convidar o Bono para a conversa.

Dentre muitos outros assuntos, falou-se sobre música cristã, e o pastor Bill Hybels perguntou a Bono, que tem um histórico protestante e inclui muitas questões religiosas em suas músicas, por que nunca havia gravado um disco de música gospel. A resposta de Bono – apesar de muito ácida, porém não menos verdadeira – me chamou à atenção para um aspecto da minha vida com Deus. Em suas palavras:

 bono_reduz
"Aprendi que pelo conhecimento da Verdade, essa Verdade me faria livre. Acho que na música gospel atual falta um pouco dessa Verdade. Em muitos casos, vive-se uma mentira. E essa mentira pode ser... viver como a projeção da pessoa que você gostaria de ser, ao invés de viver como você de fato é. Muito da música gospel para mim é fingimento do tipo: 'Tudo está ótimo, tudo vai bem'. Mas e as pessoas ao seu lado, e o mundo lá fora? Eu aceito que esta é uma questão de fé, ok; mas eu tenho dificuldades em lidar com isso. Eu lido melhor com o 'blues', entende? O 'blues' é mais parecido com os Salmos de Davi, coisas do tipo: 'Onde você estava quando mais precisei? (...) Se você é Deus mesmo, olha eu aqui!'. Eu lido melhor com esse tipo de música." Concluiu Bono.

Ao ouvir essas palavras, refleti sobre minha sinceridade para com Deus. Passei a questionar algumas atitudes de passividade em meio às crises; até que ponto é fé ou, simplesmente, conformismo e comodidade. Erguer as mãos na igreja e cantar sobre "esta paz que sinto em minh'alma...", reflete mesmo uma confiança inabalável no Deus que segura na minha mão e me dá paz por entre o vale sombrio da morte, ou será muito mais uma postura escapista e acomodada de quem não quer encarar o problema como ele é? Se houvesse mais sinceridade, talvez diria: "Deus, estou com medo, ansioso e aflito; não sei como resolver esse problema, não tenho condições de cantar, só de chorar... Por favor, me ajuda na minha falta de fé".

Acho que isso faltou ao irmão do filho pródigo, o que chamamos de "filho próximo". O texto do evangelho de Lucas (cap. 15, versos 11-32) nos apresenta esse jovem que escolheu ficar na casa do pai, enquanto seu irmão, o mais jovem, escolheu sair e "curtir" a vida, ainda que essa "curtição" rumasse à destruição. Do ponto de vista da sinceridade, contudo, aquele que saiu foi mais o coerente.

À luz desta parábola, o religioso é aquele que vive nos portões da casa do Pai, olha por entre as grades e pensa: "Ah, como eu queria saber o que tem lá fora...", mas que nunca externa esse desejo, pois vive numa relação de "podes" e "não podes"´, "é certo" e "é errado", é "permitido" e "é proibido". Esse tipo de ambiente inibe a sinceridade do cristão, pois o coloca dentro de uma grande tensão: a sinceridade versus a aceitação. "Se falar a verdade sobre que sou e o que eu sinto, serei sumariamente rejeitado".

Sobre esse Deus com quem queremos lidar nas bases da sinceridade, sua palavra diz o seguinte: "... porque o SENHOR esquadrinha todos os corações e penetra todos os desígnios do pensamento" (1 Cr. 28:9); "... o homem vê o exterior, porém o SENHOR, o coração." (1 Sm. 16:7); e, por fim, "... o Senhor não desprezará aquele de espírito quebrantado e de coração contrito." (Sl. 51:17). Enfim, não dá pra fingir com Deus. Ele sabe como estamos, conhece o que vai na nossa mente e coração, e o que é melhor: mesmo sendo quem somos, Ele sempre nos aceita.

E aí, quer ser sincero ou religioso? Caminhar em sinceridade com Deus e, acima de tudo, com o próximo implica muitas vezes em lágrimas e decepção, mas certamente lhe proporciona a bênção de um relacionamento autêntico e sem máscaras, onde mesmo com todos os erros, a aceitação do Pai garante a auto-aceitação. Por outro lado, levar uma relação ritualística e legalista com Deus (que está como um inspetor severo atento ao mínimo vacilo) lhe faz sempre temer o dia em que a máscara cairá – porque esse dia sempre chega! – fazendo nascer a enorme necessidade da aceitação (de Deus e dos homens), mesmo que para isso você tenha que viver uma vida que não é a sua.

A escolha está diante de nós.