29 maio 2009

POR QUE DEBOCHAM DE NÓS?

Encontrei-me em uma padaria da cidade com um antigo vizinho. Naquela conversa, tipo "atualização de dados", ele perguntou: "O que você está fazendo hoje?" Ao responder que era pastor, ele esboçou um olhar meio desconfiado / decepcionado e completou: "Mas você não está envolvido nessa palhaçada que se ouve e se vê nas televisões e rádios não, né?"

"Bem, acho que não!", respondi. Mas o que eu ouvi de fato o meu ex-vizinho dizer, e que muito me incomodou, foi mais ou menos o seguinte: "Se vocês afirmam que a mensagem de Cristo é tão libertadora e transformadora, como vocês, evangélicos, se multiplicam no país, mas praticamente não se vê libertação ou transformação no nosso sistema de leis, nos bastidores das instituições públicas, no caos da vida urbana, na violência desmedida, na casa da Dna. Maria que tem seis filhos, um marido alcoolatra e faz milagre para sobreviver com meio salário mínimo das roupas que lava?"

No imperdível livro "A igreja do outro lado", Brian McLaren reconhece de maneira bem indigesta, mas não menos sincera, sobre onde podemos ter perdido o foco da mensagem transformadora de Jesus:

"Perdemos a salinidade, e como disse Jesus: 'para nada servimos senão para sermos jogados fora e pisados (debochados) pelos homens'. (Mt. 5:13). Em certo sentido temos sido pisados." Senti-me "pisado" pelo desdém do ex-vizinho! "Merecemos ser pisados quando declaramos uma fé de tanto poder e mostramos tão pouco dele em nossas vidas." "Sim, tenho consciência do 'poder do evangelismo', dos 'encontros poderosos', dos 'reavivamentos do riso' e tudo o mais. Eles têm o seu lugar, mas o poder que ansiamos ver não é tanto uma questão de chacoalhar os braços de uma pessoa, de emoção ou de aparato vocal, mas sim o poder de chacoalhar o nosso egoísmo, a nossa intolerância, nosso preconceito, nossa preguiça e nosso medo. Estou esperando por um encontro de poder que resulte não apenas no falar em línguas, mas em um dízimo fiel; não apenas no anelo pela cura física, mas no esforço pela cura social; não apenas nas manifestações emocionais, mas em uma arte melhor, em uma ecologia melhor e em pessoas mais prestativas. Isso para mim a essa altura seria miraculoso o bastante".

15 maio 2009

DEUS CRIA E CONTEMPLA!

O livro do princípio, o Gênesis, nos relata que quando Deus criou todas as coisas, ele se agradou do que viu – "E Deus viu que ficou bom" (1:10 – NVI); inclusive "muito bom", ao se referir à coroa da criação, o homem. O salmo 19 começa: "Os céus declaram a glória de Deus". Quer dizer, a Criação não só é bela como por si só também glorifica a Deus em sua beleza e magnitude. Esse mesmo livro dos salmos é finalizado com um imperativo, mas que também afirma: "Todo ser que tem vida louve (louva) o Senhor". Deus é louvado e glorificado em tudo o que existe e acontece não só porque de tudo Ele é Autor, mas como também a tudo sustenta.

Pensando nisso convido você a olhar para o mundo que está aí fora, para as pessoas, paras a artes, a natureza, a ciência e tudo o mais e se deixar encantar diante de um Deus tão criativo e excelente. Jesus já nos fez esse convite: "Observem as aves do céu... Vejam como crescem os lírios do campo...".

Os cristãos em nossos dias têm estado muito ocupados fazendo, fazendo e fazendo. O problema não é o fazer, mas o fazer que não desfruta. Deus cria e em seguida contempla. Ele cura e depois convida o ex-defunto para sentar-se à mesa. Ele chama Moisés no meio do vislumbre contemplativo do arbusto que não queima. Ele cria e continua criando para desfrutar (conosco) da sua criação. A negligência de uma espiritualidade contemplativa tem gerado cristãos utilitaristas, imediatistas e superficiais, obtusos no entendimento de que toda manifestação criativa – TODA – tem sua fonte no Deus criador.

Por tanto, trago à mente algumas oportunidades de contemplação. A leveza e a sincronia dos movimentos da bailarina carioca Ana Botafogo: beiram a perfeição. A potência reverberante dos três tenores, Domingo, Carreras e Pavarotti nos momentos finais da inesquecível Nessun Dorma. Para os mais jovens, o talento inconfundível do jovem guitarrista John Mayer. A poesia sensível e perspicaz dos saudosos Drummond e Vinícius. E um dos meus favoritos, alguém cuja obra sintetiza ainda hoje boa parte da genialidade musical do mundo, Antônio Carlos Jobim. O que fazer diante de tanta beleza, sensibilidade, criatividade e magnitude? Bem, não há nada a fazer, só contemplar e declarar: "A Deus toda Glória"!