28 agosto 2009

O MAIOR SOBRENATURAL DE DEUS

A Bíblia, no Antigo Testamento, mais especificamente nos livros de Esdras e Neemias, narra a saída do povo judeu da Babilônia, sob regência persa aproximadamente pelo ano de 458 a.C. O povo havia sido prisioneiro por mais de 60 anos e agora se via diante da tarefa de reconstrução nacional; os muros e o templo deveriam ser reconstruídos, a Lei e o culto restaurados e o povo etnicamente purificado. Diante desse quadro, Neemias promove uma espécie de "dia de leitura bíblica" onde a Lei seria lida, traduzida e explicada ao povo; mais de uma geração esteve fora por tempo suficiente para esquecer o idioma nacional. Segue o relato bíblico desse momento em Ne. 8:8-10:

"Leram no livro, na Lei de Deus, claramente, dando explicações, de maneira que entendessem o que se lia. (...) ensinavam todo o povo lhe disseram: Este dia é consagrado ao SENHOR, vosso Deus, pelo que não pranteeis, nem choreis. Porque todo o povo chorava, ouvindo as palavras da Lei. Disse-lhes mais: ide, comei carnes gordas, tomai bebidas doces e enviai porções aos que não têm nada preparado para si; porque este dia é consagrado ao nosso Senhor; portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do SENHOR é a vossa força.

Aproximadamente dois mil anos desse acontecimento, o século XVI traria uma nova oportunidade dessa palavra ser lida, interpretada e traduzida. Enquanto o idioma alemão ainda se compunha da junção de outros dialetos locais, Martinho Lutero traduziu a Palavra de Deus e a colocou na mão do povo. A partir daí, temos o privilégio de ler e entender a Bíblia em nossa própria língua. Lembro-me do povo Konkomba recebendo em suas mãos o Novo Testamento traduzido para o dialeto local, Limonkpeln: "Agora ouvimos Deus falar em nossa própria língua!" A Palavra de Deus sempre faz a diferença para o povo de Deus.

A sociedade pós-moderna atual, segundo o autor salesiano Ítalo Gestaldi: "(...) tem prazer no efêmero e no descontínuo. Viver é experimentar sensações; quanto mais fortes, intensas e rápidas, melhor. (...) nada de valores, o que importa é o que agrada". Ele continua e descreve a religiosidade desse homem pós-moderno como centrada nele mesmo: "antropocêntrica, branda, 'à La carte', extremamente cômoda, cética ante o heroísmo e distante de qualquer entrega, emocional e anti-intelectualista, que se acaba no 'aleluia e glória Deus'!, (...) carente de confiança em seus líderes e divorciada da cultura".

Dizer que precisamos retornar à palavra de Deus já virou jargão e não convence mais. Creio, ao invés, ser necessária uma individual disposição de caminhar rumo à maturidade cristã. É porque falta maturidade ao povo de Deus que temos ouvido e presenciado tantos absurdos alardeados em nome de Jesus por aí a fora. Cristão que busca legítima maturidade cairá necessariamente de joelhos diante de Deus agradecendo pela sua maravilhosa e suficiente Palavra. É a partir dela e somente nela que a voz de Deus é ouvida.

Juntos rumo à maturidade.

05 agosto 2009

O QUE É A SANTA CEIA?

"Entretanto, nisto que lhes vou dizer não os elogio, pois as reuniões de vocês mais fazem mal do que bem." (1 Co. 11:17 - NVI)

Convencionalmente, celebramos a "Ceia do Senhor" ou a "Santa Ceia" – dá no mesmo – ao primeiro domingo de cada mês. É um momento comunitário, singelo e muito bonito, além de fundamental para a fé cristã. O próprio Jesus disse que todas as vezes que repetíssemos esse ato inaugurado por ele junto aos seus discípulos (Lc. 22:7-20), deveríamos fazê-lo "em memória de mim", advertiu o Mestre (Lc. 22:19).

Na comunidade primitiva, como nos relata o livro dos Atos dos Apóstolos, o evangelista Lucas descreve um pouco da singeleza desse momento e de como a comunidade vivenciava o seu significado: "Eles (os discípulos) se dedicavam ao ensino dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e às orações. (...) Partiam o pão em suas casas, e juntos, participavam das refeições com alegria e sinceridade de coração, louvando a Deus e tendo a simpatia de todo o povo." (At. 2:42, 46b e 47). Alguns detalhes nos chamam à atenção: o "partir do pão" acontecia em meio ao ensino, à comunhão e às orações. Comer à mesa com outros irmãos, à luz dos ensinos do Novo Testamento, era (e é) tão espiritual como orar ou estudar a Palavra. Eles também faziam isto, diz o texto, "juntos". Ninguém ficava de fora, pois o alvo não era a comida em si, mas a oportunidade de estarem juntos celebrando a nova de Cristo em seus corações.

O tempo passou e algumas igrejas nasceram como fruto desse lindo movimento inaugurado pelo Homem de Nazaré. O apóstolo Paulo, participante ativo desse mover, contribuiu para o fortalecimento da igreja de Corinto que, em algum momento da sua caminhada, perdera o foco central do que significava celebrar a ceia do Senhor. Ele postou sua queixa: "Ouço que quando vocês se reúnem como igreja, há divisões entre vocês (...) cada um come a sua própria ceia sem esperar pelos outros, de modo que enquanto uns ficam com fome, outros, embriagam-se." (1 Co. 11:18, 20-21). Novamente fica claro, o fim da Santa Ceia não é a comida (no nosso caso, o partir do pão), mas a sincera disposição de tê-la de forma comunitária, "juntos".

A conveniência de participar da Ceia no primeiro culto do mês é que do ponto de vista físico, estaremos todos "juntos". Acredito, contudo, ser bem mais profundo o sentido que Jesus quis (e quer) dar a essa idéia de "estarem juntos os participantes da mesa". Juntos no coração, sem pendências com o próximo; Juntos na posição, sem preconceito ou distinção de classes sociais; Juntos na abnegação, sem reservas para abençoar e dividir o (pouco ou muito) que temos com aqueles que (pouco ou nada) têm; e Juntos na gratidão, sabendo que tudo o que temos ou o que algum dia viremos a ter serão sempre dádivas do nosso Eterno pai.

Essa compreensão precisa ir para além dos primeiros domingos do mês. Precisa estar presente nas reuniões de Pequenos Grupos, nas convivências dos irmãos e acima de tudo, nas refeições do dia-a-dia, durante as quais tantas outras pessoas, criadas à mesma imagem e semelhança que nós, estão diante de um prato vazio de comida e de qualquer perspectiva de vir a comer naquele dia!

"Fazei isso em memória de mim, diz Jesus". Participar da Ceia do Senhor não é muito mais do que tomar um pedaço de pão e um cálice de vinho? E ainda tem gente discutindo se esse vinho deve ser com ou sem álcool.